Efeitos benéficos de "superalimentos"são mais marketing do que ciência (*)
Emagrecer, controlar o colesterol, melhorar a memória, diminuir o risco
de doenças cardiovasculares e câncer. Parece lista de desejos de Ano-Novo, mas
são algumas das funções atribuídas a "superalimentos" como frutas
vermelhas, cacau, castanha-do-Pará, quinoa e os queridinhos da vez goji berry e
chia.
Os dois últimos, especialmente, viraram panaceia em 2014. No Brasil, as
pesquisas no Google por "goji berry", fruta do sul da Ásia, cresceram
10 vezes de março de 2013 a março de 2014, por exemplo.
A moda é embalada pelo marketing dos produtos, que por sua vez se
alimenta de resultados de pesquisas. Mas, apesar dos estudos, os superpoderes
desses alimentos estão longe de ser unanimidade.
"É mais criação do marketing do que da ciência", diz a
nutricionista Manuela Dolinsky, professora da Universidade Federal Fluminense.
Para ela, o maior problema é a falta de evidências científicas. Muitos
dos estudos são feitos em laboratório, com culturas de células. Também há
pesquisas com animais, mas trabalhos em humanos são poucos e insuficientes.
"Basta ter um artigo comprovando um efeito in vitro que o resultado
já é extrapolado para qualquer situação, sem comprovação", diz a
nutricionista Ana Luísa Faller, professora da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
Um exemplo é o açaí, fonte de antocianinas, pigmento avermelhado com
ação antioxidante. Estudos com ratos já relacionaram o consumo da fruta com a
prevenção de câncer, de danos cerebrais e com o controle do colesterol.
"Mas os estudos envolvem simulações. Ainda não se sabe qual é o
efeito real no nosso organismo, onde e como os compostos agem", diz
Daniela Souza Ferreira, engenheira de alimentos da Unicamp.
ANTIOXIDANTES
Nem tudo é exagero nas propriedades dos "superalimentos". De
fato, açaí e outras frutas vermelhas são boas fontes de compostos bioativos,
substâncias com diversas funções, mas popularizadas pelo poder antioxidante.
O organismo humano produz radicais livres o tempo todo. Quando há um
desequilíbrio entre a produção e a "captura" de radicais livres, os
elétrons a mais podem afetar as células, causando envelhecimento mais rápido e
desenvolvimento de câncer e de outras doenças crônicas, de acordo com Faller.
"O problema é que não conseguimos mensurar quanto antioxidante a
pessoa precisa ingerir para se livrar dos riscos", afirma.
Uma xícara de goji berry, por exemplo, seria pouco para conseguir o
efeito proclamado pelos estudos, calcula o nutrólogo Durval Ribas Filho,
presidente da Associação Brasileira de Nutrologia.
Também não se sabe até que ponto a forma de consumo interfere no efeito.
No caso do açaí, a perda de nutrientes da fruta in natura para a versão em
polpa congelada é muito grande, diz Dolinsky.
Além disso, afirma a especialista, é perfeitamente possível substituir
"superalimentos" por versões nacionais, mais baratas. A jabuticaba e
o morango, por exemplo, têm as mesmas propriedades das frutas vermelhas da
moda.
A aveia é um bom substituto para a quinoa, porque também faz parte do
grupo dos cereais, tem alta concentração de fibra solúvel e seu consumo é
associado à redução dos lipídeos no sangue.
Por fim, a linhaça pode ser alternativa para a semente de chia. Ambas
são ricas em ômega 3, e a linhaça é bem mais barata: 250 gramas de chia custam,
em média, R$ 25, cinco vezes mais que a linhaça.
Para a nutricionista Ana Beatriz Baptistella, da VP Consultoria, a
receita de uma alimentação rica continua sendo variar o cardápio, com alimentos
de todas as cores.
"Não é preciso comer alimentos exóticos para ser saudável. Toda
fruta e verdura têm vitaminas e antioxidantes. Não adianta comer chia e
continuar indo ao fast food."
SAIBA MAIS SOBRE OS "SUPERALIMENTOS"
Chia
Semente fonte de aminoácidos e ômega 3 (gordura boa presente também na linhaça), que ajudam na prevenção de doenças cardiovasculares e da diabetes. Não há comprovação de que a chia ajude a perder peso. Tem citatos, que diminuem a absorção de minerais e vitaminas.
Semente fonte de aminoácidos e ômega 3 (gordura boa presente também na linhaça), que ajudam na prevenção de doenças cardiovasculares e da diabetes. Não há comprovação de que a chia ajude a perder peso. Tem citatos, que diminuem a absorção de minerais e vitaminas.
Freekeh
Grão do trigo colhido ainda verde e tostado. Segundo os fabricantes, tem mais fibras e antioxidantes que o trigo comum e contribui para o bom funcionamento do intestino, previne diabetes e promove a saciedade. Não há provas científicas dos benefícios, porém.
Grão do trigo colhido ainda verde e tostado. Segundo os fabricantes, tem mais fibras e antioxidantes que o trigo comum e contribui para o bom funcionamento do intestino, previne diabetes e promove a saciedade. Não há provas científicas dos benefícios, porém.
Quinoa
Cereal com ômega 3, gordura boa, e alta composição proteica. Alguns estudos, a maior parte feita em animais, mostram que ele ajuda na prevenção de diabetes e hipertensão. O cereal também é fonte de citatos, que podem diminuir a absorção de vitaminas e minerais.
Cereal com ômega 3, gordura boa, e alta composição proteica. Alguns estudos, a maior parte feita em animais, mostram que ele ajuda na prevenção de diabetes e hipertensão. O cereal também é fonte de citatos, que podem diminuir a absorção de vitaminas e minerais.
Açaí
Rico em antocianinas, antioxidante que dá a cor roxa. Ajuda a prevenir doenças cardiovasculares e é fonte de vitaminas, minerais, carboidratos e proteína. A maioria dos estudos sobre os efeitos foram feitos com animais. A polpa congelada pode ser menos benéfica.
Rico em antocianinas, antioxidante que dá a cor roxa. Ajuda a prevenir doenças cardiovasculares e é fonte de vitaminas, minerais, carboidratos e proteína. A maioria dos estudos sobre os efeitos foram feitos com animais. A polpa congelada pode ser menos benéfica.
Cacau
Tem polifenóis, que reduzem o risco de aterosclerose e outras doenças cardiovasculares. O efeito é comprovado. Os benefícios estão no cacau: para o chocolate ser benéfico, precisa ser amargo (no mínimo 65% de cacau). Além disso, o cacau é um alimento calórico.
Tem polifenóis, que reduzem o risco de aterosclerose e outras doenças cardiovasculares. O efeito é comprovado. Os benefícios estão no cacau: para o chocolate ser benéfico, precisa ser amargo (no mínimo 65% de cacau). Além disso, o cacau é um alimento calórico.
Frutas vermelhas
Ricas em flavonoides e ácido helágico, substâncias antioxidantes. Há estudos que relacionam o consumo do cranberry com melhorias de males do trato urinário e do mirtilo com aumento na memória, mas frutas nacionais como jabuticaba e amora têm o mesmo efeito.
Ricas em flavonoides e ácido helágico, substâncias antioxidantes. Há estudos que relacionam o consumo do cranberry com melhorias de males do trato urinário e do mirtilo com aumento na memória, mas frutas nacionais como jabuticaba e amora têm o mesmo efeito.
Castanha-do-Pará
Rica em selênio, micronutriente antioxidante e que ajuda na cognição. Também é rica em gorduras monoinsaturadas, que ajudam contra o colesterol. Em altas quantidades, porém, o selênio causa efeitos adversos. Deve-se consumir só uma castanha por dia.
Rica em selênio, micronutriente antioxidante e que ajuda na cognição. Também é rica em gorduras monoinsaturadas, que ajudam contra o colesterol. Em altas quantidades, porém, o selênio causa efeitos adversos. Deve-se consumir só uma castanha por dia.
(*) Publicado na FOLHA DE SÃO
PAULO em 31/12/2014
Redatora: JULIANA VINES / COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA
“250 gramas de chia custam, em média,
R$ 25, cinco vezes mais que a linhaça. “
AVEIA (flocos finos) –250g = R$ 2,00
CASTANHA DO PARÁ – 250g = R$ 10,00
CHIA ( sementes) – 250g = R$ 3,00
GOGI BERRY – 250g = R$ 22,50
LINHAÇA DOURADA (sementes) – 250g =
R$ 2,50
QUINUA (flocos) – 250g = 11,25
ESTES, ACIMA, SÃO OS PREÇOS DOS PRODUTOS CITADOS, ADQUIRIDOS VIA
INTERNET NA
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