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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

UFPB estuda propriedades do ‘olho de boi’- tão potente quanto a morfina

Dentro de alguns anos, um novo medicamento poderá surgir no mercado com propriedades analgésicas tão potentes quanto à morfina, uma droga utilizada no tratamento de dores intensas, eficiente, mas com várias efeitos colaterais. A melhor notícia é que esse novo medicamento poderá ser produzido a partir de um trabalho realizado dentro da própria Paraíba, por pesquisadores do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (LTF) da UFPB.
A pesquisa só está no início, mas os primeiros resultados começam a apontar para os potenciais analgésicos extraídos de uma planta comum nos municípios paraibanos: a Dioclea grandiflora, mais conhecida popularmente como ‘olho de boi’, pelo aspecto parecido com o olho bovino.
O trabalho, realizado pela equipe do professor do Departamento de Fisiologia e Patologia da UFPB, Reinaldo Nóbrega de Almeida, vem sendo desenvolvido há 10 anos, por uma equipe de 20 pessoas, e busca mostrar se o uso da planta utilizada popularmente para tratamento de problemas renais, tem mesmo eficácia em termos de analgesia.
O estudo, explica o professor, foi iniciado a partir da análise das folhas da planta e mais recentemente, a partir das sementes da Olho de Boi. “Apesar de ser uma planta encontrada em vários municípios, sempre precisaríamos de muitas folhas para a pesquisa”, lembrando que com o uso das sementes, há uma proteção melhor da espécie.
Os primeiros resultados são bem animadores. Mesmo com outros trabalhos já realizados com a planta no Brasil e Estados Unidos, a pesquisa feita no LTF vem mostrando que a planta tem mesmo propriedades analgésicas. “Nos estudos, estamos verificando que há resultados interessantes de atividade analgésica”, reforça.
A pesquisa pode trazer uma boa notícia, em termos de novidades no mercado de analgésicos. Mas, por enquanto, lembra o professor Reinaldo Nóbrega, é só o início de novas pesquisas que devem surgir mais à frente. “Ainda será necessário concluir toda a parte de estudos toxicológicos com a planta e talvez em cerca de três anos é que poderemos chegar ao estudo clínico (com humanos)”, disse ele.
Só a partir desses novos futuros estudos, reforça, é que se é possível pensar em algum tipo de produção de medicamento à base da planta. “Após o estudo comprovado é que pode se chegar a esse estágio”, completa.

Planta apresenta os benefícios da morfina mas sem efeitos colaterais

Os resultados do trabalhos feitos nesses dez últimos anos já mostram que benefícios analgésicos ela possui. Mais que isso, são benefícios que podem ser destituídos de efeitos colatarais como acontece com alguns medicamentos. Segundo o pesquisador, a planta teria efeitos parecidos ao da morfina, mas sem os indesejáveis efeitos da substância, como o poder de causar dependência rápida.
A morfina é uma droga produzida em laboratório derivada do ópio, em 1803, e usada no tratamento da dor. Entre seus indesejáveis efeitos pode causar, em alguns casos, euforia, tremores, suores, ansiedade, entre outros sintomas. Nos doentes com dores, em geral não existe efeito eufórico, mas há efeito sedativo.
Na prática, a esperança é que um novo medicamento possa surgir da pesquisa para substituir toda a potencialidade de ação da morfina, por exemplo, mas sem todas as conseqüências comuns a ela, esperam os pesquisadores. Só que isso leva tempo e vários estudos pela frente, alerta o professor. “Quando se fala em um estudo como esse, isso gera uma expectativa popular e é importante que as pessoas saibam que ainda faltam novas pesquisas”, reforça.
Outro alerta, completa Reinaldo Nóbrega – que também é pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), é que apesar de já haver um uso da planta no tratamento de doenças entre a cultura popular, são necessários cuidados e critérios no uso da espécie. “Em geral, as pessoas usam a folha ou a casca do caule da planta para fazer o chá. O problema é que muitas vezes as pessoas tomam o chá sem muitos cuidados”, diz ele.

Espécies só devem ser usadas após pesquisas

A diocléia grandiflora passa por pesquisas na UFPB, juntamente com outras plantas medicinais, mas os próprios pesquisadores lembram que o uso de plantas só deve ser feito depois de comprovadas as atribuições medicinais de determinada planta e, principalmente, a forma adequada para que ela possa ser utilizada.
E isso nem sempre é o que acontece, alerta Fátima Marques, coordenadora do Centro de Assistência Toxicológica da Universidade Federal da Paraíba. Só este ano, o centro registrou de janeiro a agosto dez casos de intoxicações (contato com plantas tóxicas ou ingestão) por plantas em João Pessoa. “É baixa a incidência, mas é importante que se saiba que esses são dados subnotificados, já que boa parte dos casos de intoxicação acabam sendo tratados em casa ou em hospitais que não notificam os registros ao Ceatox’”, reforça.
O problema, diz Fátima Marques, é que o uso das plantas medicinais, principalmente para a utilização em chás continua sendo amplamente utilizado entre os nordestinos, mas nem sempre da forma mais correta. “O que acontece é que os chás têm que ser feitos nas concentrações corretas. O problema é que muita gente acha que quanto mais forte o chá, melhor, e isso pode levar a várias conseqüências. As gestantes, por exemplo, precisam ter cuidados redobrados, já que muitas plantas podem levar ao aborto e causar a morte da própria gestante”, completa. (SC)


Fonte: Jornal da Paraíba

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