FITOTERAPIA
Em comunidade pernambucana mulheres cuidam da saúde com produtos naturais (*)
A cura pela
natureza. Há mais de 30 anos, o médico naturalista Celerino Carriconde semeia
informações e experiências sobre o uso das plantas medicinais. Ele foi um dos
pioneiros a defender a fitoterapia nos serviços públicos de saúde. "O
preço disso, no começo, foi tentar caçar o meu diploma", diz.
Nada como o
tempo, as pesquisas e as comprovações dos benefícios das plantas que as
gerações mais antigas já usavam apareceram.
“Por que gastar
dinheiro em tanto analgésico e anti-inflamatório se você tem a natureza que
pode fazer isso?", reflete o doutor Celerino.
O Centro
Nordestino de Medicina Popular espalhou sementes por locais distantes e
esquecidos. As hortas e as farmácias populares se multiplicaram por comunidades
quilombolas, de pescadores, de agricultores, indígenas e chegaram às periferias
das grandes cidades, e ao alcance de quem mais precisa.
O Centro de
Saúde Alternativa da Muribeca - um bairro pobre, em Jaboatão dos Guararapes,
região metropolitana do Recife - é mais conhecido como "a casa das sete
mulheres". São sete donas de casa da comunidade que se juntaram para
contribuir com a melhoria de vida dos moradores da vizinhança.
“Se você pode
vir comprar um remédio onde você tem a segurança, tem todos esses cuidados, e
você sabe que vai surtir efeito para a sua criança, para você, então isso é
importante. Eu acredito que as pessoas valorizam muito por causa disso",
comenta a dona de casa Giselda Alves da Silva.
E valorizam
mesmo. A clientela está sempre pelo lugar. A produção é diversificada. Entre
pomadas, tinturas e xaropes, as donas de casa produzem 40 produtos
fitoterápicos. São cerca de 600 unidades por mês. A produção é sazonal. Depende
da fase de desenvolvimento das plantas que fornecem as folhas, as flores, as
raízes e os frutos - as matérias-primas da farmácia verde. É uma farmácia
diferente. Os clientes são conhecidos pelo nome.
A professora
Maria de Fátima Galindo sempre aparece em busca de fitoterápicos para ela,
parentes e amigos. "Para a família toda. Para o pessoal de Petrolina, de
Camaragibe, de Piedade”, diz. “Dá resultado, por isso que eu volto.”
O preço é
simbólico. Varia de R$ 2 a R$ 6. O suficiente para manter a horta e a produção.
Kattalinny
Garcez está desempregada e faz da casa das sete mulheres o pronto-socorro da
família. A filha Luiza, de 3 anos, nunca fica sem o xarope feito a base de
xambá, uma planta medicinal.
“Minha filha
está entrando agora na fase escolar, então ela vai viver gripada. É um ótimo
expectorante. Excelente”, garante.
O chá de amora
miúra, que funciona como diurético, também não falta na casa de Kattalliny. Ela
toma várias vezes ao dia.
“O resultado
você vê de imediato. E tem a gratificação de ser uma coisa natural, um produto
natural. O resultado eu não tenho nada de ruim para falar”, afirma.
A dona de casa
Claudete Moraes foi em busca de uma multimistura que funciona como uma espécie
de reposição hormonal. Leva germe de trigo, leite de soja, semente de linhaça,
farinha de aveia e pó de amora. Ela aprovou. "Estou bem melhor, não sinto
mais aquele calorão”, comemora.
A reposição
hormonal natural é indicada para mulheres que estão na menopausa. As donas de
casa foram capacitadas para extrair os princípios ativos das plantas. Em um
pequeno laboratório, cercado de todo o cuidado com a higiene, elas produzem os
fitoterápicos.
A dona de casa
Carmelita Pereira da Silva, de 68 anos, oito filhos, já é craque na preparação
de lambedores, tinturas e multimisturas.
"É uma
atividade que está me fazendo muito bem. Me realizando como pessoa, com uma
coisa que a gente acredita, porque, quando a gente acredita em uma coisa, a
gente se sente mais estimulada a fazer", diz.
Na horta, mais
cuidados: não entram adubos químicos nem agrotóxicos. A produção é
ecologicamente correta. O principal desafio destas mulheres é divulgar a forma
correta de usar as plantas medicinais, porque, apesar de o uso ser muito
antigo, cada planta tem seus segredos, os seus pequenos mistérios que as
diferentes gerações foram descobrindo com o passar do tempo.
"Nós temos
que observar a natureza, olhar a planta se ela realmente está sadia, e também
tem que ter o horário. Se for uma planta que cheira, por exemplo, a gente tem
que tirar logo cedo. Mas tem a questão também do capim santo. Ele cheira, mas a
gente só pode tirar ele quando tiver o sol bem forte, porque o princípio ativo
dele está mais presente. A planta tem energia como nós. Se ela está amarelinha,
se está com alguma deficiência, você não pode colher porque está doente, então
o princípio ativo dela não está correto”, explica Giselda Alves da Silva.
O pioneiro na
divulgação do poder de cura extraído da natureza não desiste de um sonho: ele espera
que um dia os pacientes possam sair dos postos de saúde com os remédios
caseiros que as nossas avós já usavam.
“E é barato,
eficaz e seguro, gerando renda de forma indireta para população”, diz Celerino
Carriconde.
O doutor
Celerino, aos 73 anos de idade, é um bom exemplo da medicina que ele defende.
"Quero chegar aos 100 anos", ri. "É a minha meta. Por enquanto
está tudo bem. Todas as taxas normais. Disposição não falta.”
(*) Matéria veiculada no Gobo Repórter de 24/02/2012
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